- As vezes com o sair do sol eu fico olhando a vida la fora... - Pensava aquela criança, a mais velha da trupe de Guilherme, a que Guilherme confiava mais, seu nome era Domingo e ao final de todo espetáculo e noite ele se cobria com um tecido negro e bem grosso e ficava escondido a sombra protegido do sol observando toda a vida, desejando-a. Talvez, por isso, ele entendia bem o que Guilherme passava e por isso conseguia com ele conversar, pois os anos não se tornaram hilários para ele, ele queria ter conhecido a vida de forma plena, crescido, envelhecido e morrido de forma natural para adentrar o que ele acreditava ser a verdadeira eternidade - O céu azul é bonito e não parece abrigar nenhum perigo como eu... - Pensava ele todas as vezes que se arriscava olhando o céu e vendo a vida brilhar lá fora de seu mundo escuro com brilho vermelho, mas ele apesar dos pesares também escondia um medo, um medo que ao lado de Guilherme dizia sempre - Tanto faz - O medo de que depois dessa maldição vampírica nada mais, nenhuma redenção ele teria.
- O que eu disse para meu mestre... Eu também tenho medo, porém que castigo é pior que esse, cada espetáculo eu vejo os olhos de crianças chorando e perdendo o brilho para saciar minha fome, tudo bem que elas acordam como eu, mas não é a mesma coisa... Apesar de todo movimento que temos, somos assassinos, demônios. Não é a mesma coisa de seguir com o sol podendo te tocar e a lua também, aqui só temos a lua e o sangue, nem filhos podemos gerar, acho até engraçado esses contos que mostram vampiros com seus filhos... Somos cadáveres que vivemos da morte, não geramos vida, tiramos e geramos escravos. Não há prazer em ser vampiro apesar de sermos extremamente sensuais e românticos, nosso romantismos está na dor, admiramos a beleza por que a queremos de volta e sabemos não poder ter a estaca e a salvação para nós! Não... Não é! - Ele pensava todas as noites - Não é, pois depois de tanto massacre o que vem? Paz... Eu disse isso para o Guilherme “tanto faz” eu disse para ele sobre essa decisão, mesmo sabendo que não e por isso ele jogou a estaca longe, ele sabe que menti, ele viu que menti, então eu... - Domingo olhou as estacas - Eu... - Domingo pegou uma estaca, jogou ela longe, caminhou para debaixo do sol - Eu não vou com uma estaca no peito para meus ossos adornarem o pesadelo, eu vou como pó - Arranco o pano que o cobria e no meio da rua com o sol firme no alto seu corpo entrou em combustão - Desculpe Mestre, você confiou no mais covarde - Ele fechou os olhos - O calor do sol é tão bom - e virou pó como se nunca tivesse existido, mas sabemos que existiu e veja:
- Olá domingo!
- Onde eu estou?!
- Você não me conhece, mas seu mestre conhece, fui eu que o tornei um vampiro com um pacto, ele me dá almas e eu entrego a esposa dele com vida no fim. Achava que iria acabar bem com aquele sacrifício ao sol? Quando virou vampiro e adentrou a trupe de Guilherme já perdeu a sua alma a mim e aqui será condenada e me alimentará, que torturas posso fazer a ti Domingo?!
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- Onde será que está o Domingo? - O show já vai começar - Domingo! - Procurava Guilherme por seu circo, quando olho no meio da rua um tecido negro, Guilherme correu para o meio da rua agora banhada pela lua minguante e seu sorriso que parecia rir de Guilherme e sua mais nova perda. Ele pegou o tecido e o abraçou como um pai abraça um filho e perguntou - Por quê?
E mais uma vez não teve resposta de nada. Ele viu pessoas chegando para ver o espetáculo, ele vestiu aquele tecido como uma capa, foi elegantemente entre seu público para o picadeiro e como se nada tivesse acontecido, mas com um tom que parecia uma promessa que fazia agora a si mesmo que jamais aquilo voltaria a acontecer com outro de sua trupe ele grito de forma mais poética:
- Senhoras e senhores! Damas e cavalheiros! Bem vindos ao circo! - Seus olhos avermelharam-se, seus caninos ficaram aparente. O público aplaudiu achando que era mais um truque e no fim do espetáculo eles desejaram ser mais um truque...
Vinicius Diniz Rosa
Talvez Continue...
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