O alegre circo de Guilherme
VINICIUS DINIZ ROSA·SÁBADO, 19 DE MAIO DE 2018
Era um circo diferente, o que soa até estranho, por que todos os circos são meio diferentes, medonhos e lindos, esse era bem elegante seus palhaços usavam terno tinham dentinhos afiados e o preço para o show era um litro de sangue, bem barato visto todo o sangue desperdiçado pela história, aqui ao menos não perderiam a vida por algo tão banal quanto um país, mas perderiam por diversão e ganhariam uma eternidade melancólica que ao fim dos primeiros mil anos fica até hilária. Para os que não aguentam, podem enfiar estaca no próprio peito e então adornar nossas colunas, com seus ricos ossos que provam a meticulosidade da criação, assim era o circo que chegava a cidade, um circo vermelho como sangue e como a paixão que cobrava a vida como a paixão cobra.
Guilherme era o dono desse circo, o vampiro fundador, cansado de seguir a vida atrás de sangue virgem teve a ideia genial de fazer um circo e atrair pais e crianças, para as crianças o preço era meia entrada, meio litro de sangue, ele até era um vampiro bonzinho, todos entravam e se divertiam com os seus olhos trocando o brilho do sol, por um vermelho amargurado e quem não ria com aqueles palhaços e mágicas sem truques que parecia até que o próprio diabo dera poder aquele circo, parecia (risos) ele dera.
Precisavam ver o circo na lua cheia, bonito, uma bela fotografia onde sua tenda parecia verdadeiros picos e torres de castelos góticos, dão até nostalgia, vampiros tem bom gosto e deixavam ele bem elegante, vermelho, preto e roxo, com uma entrada adornada com dentes de leão (não a flor) e asas de morcego, e uma passagem em forma de caixão, que levava ao picadeiro onde Guilherme alegremente apresentava o show de sua trupe, que sorria alegre pela conquista de alimento.
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Guilherme o dono do circo era com um Drácula, perdeu o amor de sua vida, mas sem a coragem para ir de seu encontro decidiu dar a eternidade a outros para não perderem o amor de suas vidas, assim nasceu seu circo... Seu pensamento era muito nobre, mas custava sua alma e a de todos os que faziam parte de sua trupe que não podiam observar a beleza a luz do dia e tinham que rouba-la a noite escondido como criaturas ferozes, Guilherme não sabia que isso doía ele achava que a dor que sentia era somente a perda, mas longe disso, era a morte. Sua eternidade era vazia e não gerava nada novo, as crianças de seu circo com o passar do tempo, mesmo que ainda jovens não passavam disso e não geravam nada... Toda a vida do circo era roubada e entregue para a morte que os dava a eternidade, mas não o dom da criação.
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Eu estou vivo - Gritava Guilherme escondido olhando para um espelho que não o via - Eu estou vivo! - Ele olhava o retrato de sua amada, por horas e pensava - Eu me vendi para te ter de volta, mas aonde está você... Adornando o céu como um anjo e eu aqui adornando a terra como um diabo num circo, se eu pudesse voltar atrás enfiaria uma estaca como muitos que criam nossas pilastras enfiaram em seu peito, mas o que eles ganharam além de serem itens mais vazies e decorativos?! E sei que apodreceram por terem cedido a mim e essa maldição, se me vou o circo e eles acabam, aqui podemos ao menos manter o pensamento vivo, mesmo que nunca mais se encontremos, por que duvidei da sua promessa Deus ardiloso?! Agora é tarde e o show tem de continuar, para aquelas crianças continuarem vendo os pais e seus pais vendo elas - Colocava um sorriso no rosto e ia Guilherme para o picadeiro gritar com força:
- Senhoras e senhores! Bem vindos ao espetáculo!
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Crianças e adultos olhavam admiradas para o show, que seguia com piadas, mágicas e acrobacias, cada uma apresentada com maestria por Guilherme o dono do circo que escondia muito bem sua melancolia com um sorriso afiado e brilhoso e gestos bem expansivos, a cada final de apresentação ele levantava seu cajado e fechava os olhos dizendo com falso entusiasmo:
- Hora do pagamento!
E sua trupe e também ele seguiam como feras para a platéia e tomava o sangue que era tudo que interessava para se manter vivo, cada show um massacre e novos membros, um massacre e novos membros, um massacre e novos membros.
No começo Guilherme achava que isso o deixava mais perto de sua amada, o trazia, mas o diabo que o transformou em vampiro não disse a ele que isso o deixava mais distante e cada vez mais amaldiçoado, pois a eternidade de todos os que tomava para seu circo agora era também responsabilidade dele e vivos tinham que manter e isso significava mais massacre e mais massacre significava mais distancia dos portais angelicais que se encontrava sua musa, Guilherme praguejava o dia que escutou desesperado a voz do diabo e seu arrependimento não devolvia lhe a alma e a paz, pois não podia parar. Guilherme um dia decidiu contar isso a uma criança que pelos anos que o acompanha não é mais uma criança, pois só o é por sua forma mantida perfeita pelo vampirismo. A criança o abraça e diz:
- E que diferença faz para nós? Não carregue nossa alma nas suas costas, pegue essa estaca e parta!
- Você não pode dizer isso por todos dessa trupe, eu sou o vampiro que os criou sem mim, vocês caem como pó!
- Como você pode ter certeza disso? E se isso for mais um truque do diabo que te enganou? E se não for que diferença faz? Não temos vida somos eternas crianças que não podem conhecer o amor, já morremos a tempos...
- Você diz isso por si mesmo! Os outros podem estar gostando desse show, vocês já pagaram por minha vida e não devem pagar mais...
- E fará outros pagarem pela nossa? Todo espetáculo um massacre, é justo?
- Vocês merecem a eternidade como todos...
- Senhor Guilherme, você sabe mais que ninguém que não temos eternidade alguma. Pegue a estaca e acabe com isso.
- Eu não posso...
- Tem medo da morte?
- Eu...
- Já estamos mortos e também banhados dela, vamos senhor Guilherme, termine isso!
- Eu...
- Depois de tantos anos ainda teme morrer, você já é um cadáver...
- Eu temo perde-la de vez em minhas memórias!
- E se isso fazer o senhor vê-la? E se o truque do diabo que te amaldiçoou está em fazer você acreditar se não te der um fim, você não será perdoado. Arrisque já perdeu tudo e continua a perder mais...
Guilherme pega a estaca e a lança longe...
- Vocês não devem perecer por minha alma, não mais...
Guilherme se levanta e segue para o próximo massacr... Espetáculo...
Vinicius Diniz Rosa
Talvez continue...
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